O consórcio, produto tipicamente brasileiro, está completando 60 anos e vive um boom com oferta de prêmios, alongamento de prazos e entrada em novos segmentos. Há oferta desde imóveis e veículos de luxo, até tratores, drones, serviços, cirurgia plástica e ouro
Com a recente deflação, queda da taxa de juros, movimentos diários do dólar e perspectivas político-eleitorais, o sistema de consórcios tem crescido vertiginosamente, encerrando o primeiro semestre deste ano com o melhor desempenho dos últimos dez anos. De acordo com a Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac), entre janeiro e agosto foram comercializadas 2,57 milhões de novas cotas, com crescimento de 13,2% ante o mesmo período de 2021. “As pessoas estão mais adeptas a adquirir o produto, principalmente por conta das taxas de juros. As vendas entre 2020 e 2021 aumentaram em torno de 7%”, declara a vendedora de consórcios, Vanessa Lati. Essa onda é patrocinada pelos grandes bancos fazendo campanhas publicitárias na TV aberta e nas redes sociais, para compensar perdas de receitas provocadas pelo avanço dos bancos digitais e do Pix.
Mesmo com as turbulências vividas nesses últimos dois anos, que transformaram o dia a dia das pessoas e famílias, os sonhos da casa própria, do novo carro, bem como de objetivos empresariais para aquisição de bens ou serviços, mantiveram-se em evidência. E isso explica o sucesso do consórcio.
O presidente da Abac, Paulo Roberto Rossi, afirma que a compra de cotas vem crescendo exponencialmente nesses últimos dez anos. “No ano em que o consórcio completa 60 anos, os consecutivos recordes mensais no total de participantes ativos reafirmam o forte interesse do consumidor brasileiro pela modalidade”, pontua.
O economista Ted Dal Coleto, por exemplo, procurou pela primeira vez um consórcio de bens para adquirir ouro, por achar um ótimo investimento e, para tanto, adquiriu uma cota de R$ 23.000. “Procurei o consórcio de ouro por ser um ativo de investimento de longo prazo que não perde valor com o tempo. Vale super a pena. Desde a contemplação, já tive um ganho de 89% em valorização do ouro”, declara.
Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac acredita que o crescimento em 2022, validou a participação dos consórcios na economia.
Rodrigo Martis, sócio e CEO da Âncora Consórcios, explica que investir em ouro hoje é algo muito procurado pela segurança, que o metal traz como investimento. “Aplicar em ouro faz o dinheiro render de forma segura e com liquidez imediata”, explica.
O serviço de consórcios está em constante crescimento, principalmente diante de todas as vantagens e praticidades que oferece. Aliado a isso, depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa básica de juros (Selic) para 13,75% ano, de acordo com dados do Banco Central, o mercado de consórcios é uma opção ainda mais atraente para os consumidores, que precisam lidar com altos custos dos juros para adquirir bens e serviços. A empresária Luciane Pickart viu no consórcio a oportunidade de trocar o mobiliário de suas lojas e conseguir fazer pagamentos de prestação de serviços. “Estava precisando de recursos para compra de equipamentos e para realizar pequenas reformas na minha empresa. Após ver a flexibilidade do consórcio, não tive dúvidas. Até porque, usar o recurso do consórcio chega a ser três vezes mais barato do que um financiamento”, conta.
O que diferencia essa modalidade de um empréstimo tradicional, essencialmente, é o imediatismo em receber o bem e o valor pago como montante final. Mas há outros detalhes a se levar em consideração. “No financiamento você retira o bem na hora, só que você tem o pagamento de juros. No consórcio, há um autofinanciamento. Tem custo? Tem custo. Só que os prazos de pagamento são longos e os custos são mais baixos”, explica Paulo.
Bruno Pinheiro, CEO da Turn2C, aponta a importância de se compreender o real objetivo do consórcio, que é um autofinanciamento e não uma categoria de investimento, como por vezes é classificado equivocadamente no mercado. “Ao compreender que não se compra um consórcio e sim o utiliza como forma de alcançar determinado objetivo, todo o ecossistema da modalidade passa a operar de forma mais eficiente e satisfatória para todos os envolvidos”, diz.
A perspectiva para o final do ano, segundo o presidente da Abac, é de mais crescimento. “Como perspectiva para o final do ano, estimamos que o sistema de consórcios deva seguir prosperando, mês após mês, ampliando de forma gradativa e consolidada”, projeta Rossi.